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Atualidades
terça-feira, 23 de novembro de 2021

Representantes de câmaras de comércio indicam os caminhos e desafios para se fazer negócios nos países árabes

Prestes a deixar Dubai rumo ao Brasil, a missão empresarial que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) liderou aos Emirados Árabes Unidos realizou uma intensa agenda 
desde 12 de novembro. 




As reuniões incluíram visitas técnicas setoriais, rodadas de networking entre potenciais parceiros comerciais, palestras de orientação sobre a cultura empresarial local e prospecção de oportunidades de negócios e de investimentos. Mas que oportunidades os Emirados e outros países árabes oferecem às empresas brasileiras?

Para entender o que a Expo Dubai e os 22 países árabes como um todo representam para as empresas do Brasil, a Agência de Notícias da Indústria conversou com representantes das instituições parceiras locais na organização da missão que reuniu mais de 320 empresários, executivos e representantes de entidades que compuseram a delegação: a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB) e a Dubai Chamber.

Na entrevista abaixo, o secretário-geral da CCAB, Tamer Mansour, e o diretor da Dubai Chamber no Brasil, João Paulo Paixão, falam do significado da Expo Dubai 2020 como um evento catalisador de negócios, as potenciais parcerias comerciais e de investimentos entre o Brasil e países da região, além dos desafios e caminhos para as empresas brasileiras ingressarem nesses mercados. Confira os principais trechos a seguir:

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – Que oportunidades, na visão da CCAB, essa missão comercial pode abrir para o Brasil e países árabes?

TAMER MANSOUR – Para os árabes, a Expo 2020 é bem mais que um evento. Por meio da mostra, os árabes têm a expectativa de constituir um novo marco nas relações internacionais e pavimentar um caminho para trocas comerciais, tecnológicas e culturais ainda mais intensas com o resto do mundo. Isso porque o evento ocorre num contexto em que os integrantes da Liga dos Estados Árabes buscam assegurar um futuro com maior protagonismo internacional, que vá além do tradicional papel de fornecedores de energia fóssil exercido nas últimas décadas e de mercado consumidor dos produtos das nações industrializadas.O secretário-geral da CCAB, Tamer Mansour, destaca que o Brasil tem simpatia dos árabes e de uma boa reputação na região/Foto: Elmer Magalhães/CNI

Nos últimos anos, os países árabes vêm alocando de forma perene um volume de capital impressionante em iniciativas que vão de cidades inteligentes nos principais países do Golfo, a projetos de energia solar no Marrocos e no Egito, sistemas de cultivos e criação intensivos por toda a região, Zonas Francas conjugadas com infraestrutura industrial e logística, projetos de pesquisa científica nas mais diversas áreas e até a maior floresta plantada do mundo, a ser cultivada na quase totalidade da hoje desértica Península Arábica.

O Brasil, que já tem nos países importantes parceiros comerciais, sobretudo para produtos do agronegócio, goza da simpatia dos árabes e de uma boa reputação na região. Dessa forma, o país tem com a Expo 2020 uma oportunidade ímpar em relação às das demais nações presentes no evento, para tornar a atual parceria bilateral ainda mais consistente.

JOÃO PAULO PAIXÃO – A Dubai Chamber tem sido um ator importante na relação entre o Brasil e os Emirados. Abrimos nosso escritório internacional em São Paulo em 2017, o primeiro na América Latina. Depois abrimos na Argentina, no Panamá e vamos abrir no México. Entendemos que a região e o Brasil em especial são mercados fundamentais para os EAU, em especial em setores estratégicos ligados à segurança alimentar. O Brasil é um dos principais fornecedores de proteína animal.

O diretor da Dubai Chamber no Brasil, João Paulo Paixão, ressalta que o Brasil é um dos mercados fundamentais para os EAU

Dubai tem sido utilizada como plataforma de reexportação desses produtos brasileiros para toda a região do oriente médio e o norte da África. Acreditamos que essa missão liderada pela CNI será um marco na relação entre o Brasil com os EAU, por ser a maior delegação já levada para os Emirados.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – Quais são os principais interesses comerciais e de investimentos dos países da CCAB no setor produtivo brasileiro?

TAMER MANSOUR – Há interesse em três áreas centrais: segurança alimentar, logística e infraestrutura. Há muito interesse em estruturar alianças de capital misto em empresas de alimentos, a exemplo da bem-sucedida parceria entre o fundo saudita Salic e o frigorífico Minerva, mas em aportar recursos em concessões e infraestrutura que facilitem e barateiem o acesso a alimentos.

Os fundos soberanos árabes detêm 40% do capital mundial alocado atualmente em fundos desse tipo no mundo, cerca de US$ 2,3 trilhões. São recursos que os países árabes já utilizam para semear o futuro, para desenvolver iniciativas econômicas sustentáveis – e de essência produtiva –, o financiamento de startups e tecnologia, pesquisa científica e projetos com finalidade de assegurar o acesso das populações árabes a alimento.

Os árabes também querem levar para seus territórios todo tipo e investimento. Em vários países há políticas de criação de Zonas Francas, com incentivos tributários, logísticos e de infraestrutura, muitas delas conjugadas com polos de pesquisa tecnológica, caso da Zona Franca de Suez, no Egito, e de Sarja, nos Emirados Árabes.

Os brasileiros precisam primeiro conhecer essas oportunidades e saber que, se desejarem desenvolver relacionamento com os países árabes, eles serão apoiados por nós. Além disso, é preciso estar num estágio maduro de internacionalização. A empresa precisa ver a internacionalização como uma estratégia perene de seus negócios, pois requer tempo até que se chegue ao primeiro sim, e o sucesso da relação também depende da continuidade.

JOÃO PAULO PAIXÃO – Algumas empresas brasileiras já descobriram as vantagens competitivas que Dubai tem, principalmente na parte logística, tributária, comercial e financeira, como um local de fácil acesso e muito conectado por via aérea ou marítima aos principais mercados na Ásia, na África e até em partes da Europa. Estamos falando de um mercado expandido que pode chegar a mais de 2 bilhões de consumidores.

Em Dubai, temos mais de 30 zonas francas, onde as empresas se beneficiam de uma estrutura própria, geralmente definida de acordo com o setor específico. Lá as empresas podem ser 100% donas de seus negócios, não necessitando de um parceiro local com cidadania emirática.

Para as empresas brasileiras que queiram explorar o mercado local, podem abrir seus negócios e operações, escritórios comerciais ou armazéns para distribuição, ou mesmo até fazer parte da manufatura localmente, em qualquer lugar da cidade e o governo tem ampliado o rol de setores onde as empresas podem atuar fora das zonas francas sem precisar de um parceiro local. Isso facilita muito e algumas empresas brasileiras estão usando Dubai como hub logístico para entregar seus produtos em mercados próximos, como a Arábia Saudita, Egito, Irã, Índia e outras partes da Ásia.

Embora o mercado local seja pequeno em termos de tamanho, com 3 milhões de habitantes, a população tem um elevado poder de compra, com um PIB per capita que chega a US$ 40 mil. Acreditamos, assim, que as empresas brasileiras têm muita opção para escolher o melhor local, o melhor custo-benefício em termos de estrutura, e principalmente o apoio que as zonas francas dão para as empresas instaladas, como eventos de negócios, feiras e networking.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – Em que setores há maior potencial de crescimento em fluxo comercial ou de investimentos, tanto no Brasil quanto em países árabes?

TAMER MANSOUR – Além dos que mencionei na resposta anterior, em todos os países do Golfo, há projetos governamentais que miram a diminuição da dependência do alimento importado. Todos esses projetos foram acelerados na pandemia de covid-19 e estão demandando tecnologias para viabilizar o cultivo de alimentos e a criação de animais no clima desértico.

Aqui há grande oportunidade para as soluções que já existem no agronegócio brasileiro, disponibilizada por instituições como a Embrapa e outras, que muito bem poderiam firmar projetos de cooperação com instituições árabes.

As visões regionais dos países do Golfo, especialmente a Visão 2030 (Arábia Saudita) preveem muitos investimentos na diversificação econômica que estão associados ao investimento em energias limpas. Há esforços para ampliar a geração de energia limpa em todos os países da Liga Árabe, sendo a maioria projetos de energia solar, ou seja, de produção de energia a partir da luz do sol, que é um recurso abundante na região graças à posição geográfica a favorecer tanto a incidência de raios solares, como a prevalência de dias sem nuvens ao longo de quase todo o ano.

JOÃO PAULO PAIXÃO – O Brasil é um parceiro fundamental, o principal de Dubai na América Latina. A pauta comercial tem se diversificado cada vez mais, é bastante favorável ao Brasil, num comércio total que ultrapassa US$ 2,3 bilhões ao ano, na média dos últimos três anos. O Brasil exporta proteína animal, açúcar, minérios, ouro, café – principalmente depois que foi aberto um “coffee center” para empresas do mundo inteiro que quiserem fazer degustações e amostras para novos clientes.

E há empresas brasileiras que estão em Dubai, como o Grupo Boticário, que está presente com lojas em diversos shoppings. Temos escritórios comerciais de empresas como a Embraer, a WEG. Temos entendido que o interesse das empresas associadas à Dubai Chamber, que são 260 mil, tem crescido e deve crescer cada vez mais à medida que as relações comerciais se estreitam.

Vale lembrar que, recentemente, o Brasil e os EAU ratificaram uma convenção para evitar a dupla tributação entre os dois países, o que vai facilitar bastante o fluxo de investimentos, dando mais segurança jurídica às partes envolvidas.

Dubai tem investimentos importantes no Brasil, o principal deles é da DP World, que tem um terminal portuário em Santos (SP) e tem expandido os seus investimentos para outras partes da cadeia logística e de transportes e entendemos que isso crescerá bastante. Além dos investimentos já feitos pelo fundo soberano de Abu Dhabi, o Mubadala, que já está há alguns anos em projetos de portos, aeroportos, metrô e outros tipos de iniciativas.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – Quais são hoje os principais desafios para as empresas brasileiras entrarem no mercado árabe e como superá-los?

TAMER MANSOUR – Leva certo tempo até que as pessoas em geral e, principalmente, as empresas que não conhecem os árabes e seus países percebam e valorizem os aspectos positivos das relações com eles. Os árabes com frequência são retratados de forma injusta ou estereotipada em várias situações.

Mas há muitas coisas boas, por exemplo, a fidelidade ao parceiro comercial, a disposição eterna para a negociação e a necessidade de fazer negócios em termos justos numa visão de longo prazo. Certamente o Brasil faria mais negócio com o mundo árabe se os conhecesse melhor. Talvez o resto do mundo também.

Seguindo esse raciocínio, a Câmara Árabe faz frequentemente pesquisas que ajudam empresas a traçar estratégias comerciais. Uma dessas pesquisas foi justamente um diagnóstico de imagem do Brasil no mundo árabe e dos árabes no Brasil, realizada com a proposta de criar pontes entre dois parceiros.

Queremos estreitar laços. Só recentemente os árabes têm tido a oportunidade de ampliar a comunicação com o resto do mundo e trabalhar eles mesmos sua imagem.

JOÃO PAULO PAIXÃO – Há diversas opções, a depender do tamanho da empresa e de seus interesses do ponto de vista comercial e logístico. Temos desde licenças mais econômicas, como o campus de TI que pode ser usado por startups brasileiras, onde podem utilizar a estrutura e ter encontros com investidores e testar seus produtos e conceitos e serviços. Dubai pode servir como um grande laboratório por conta da presença maciça de estrangeiros, que tem praticamente 90% de sua população de expatriados de grandes multinacionais.

As empresas também podem aproveitar os acordos comerciais firmados por Dubai com diversos países, para não pagarem imposto de importação ou terem tarifas reduzidas. Para isso, é preciso fazer pelo menos 60% de adição de valor nos produtos, com mão de obra local, o produto recebe um selo “Made in UAE”. A partir desse certificado de origem, pode aproveitar desses benefícios para ser mais competitiva mundo afora.

Dubai também sedia as maiores feiras de negócios da região do Oriente. São feiras em setores como alimentos e bebidas, tecnologia, casa e construção. Cada uma delas costuma atrair mais de 100 mil visitantes em quatro ou cinco dias de evento. Para empresas brasileiras, seja visitando ou expondo, são momentos para as que querem entrar no mercado para entenderem quem são principais atores e países competidores em cada setor.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – No caso dos Emirados Árabes, como o país pode servir de plataforma para maior inserção no mercado árabe?

TAMER MANSOUR – Uma característica importante dos países do Golfo é a possibilidade de fazer chegar produtos a todos os pontos da Liga Árabe, da Ásia e da África por meio das centenas de zonas francas existentes na região. Essas zonas francas oferecem, além de incentivos tributários, infraestrutura de ponta e a vantagem da vigência de acordos comerciais com várias regiões do mundo.

Só os Emirados Árabes Unidos têm mais de 40 zonas francas, que são altamente especializadas. Existe a zona franca certa para atuar com produtos perecíveis, com equipamento pesado, com produtos médico-hospitalares, para instalar fábricas, para as mais diversas finalidades.

Essas zonas francas têm um papel muito importante em tornar os Emirados Árabes Unidos o principal hub reexportador de mercadorias da região e reunir o ecossistema de empresas que formam diferentes cadeias de comércio internacional. Esperamos que os empresários brasileiros possam usufruir dessas oportunidades.

JOÃO PAULO PAIXÃO – A Expo é um dos maiores eventos do mundo. A Dubai Chamber é parceira oficial na parte de negócios, com um programa VIP para empresas que queiram ter acesso facilitado e agendamento de reuniões de negócios durante a exposição. Durante os seis meses, cada dia é dia de um país.

Então a Expo é plataforma global na qual as empresas vão poder se conectar com empresas de outros países, seja com autoridades governamentais, ou delegações empresariais. Há diversos espaços e estruturas onde as empresas podem fazer reuniões. Tem uma equipe dedicada a montar itinerários para os empresários aproveitarem o melhor possível a estadia na Expo.

(*) Com informações da Agência de Notícias da Indústria
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