O governo de Donald Trump nos Estados Unidos marca uma tentativa de reconfigurar a ordem econômica e estratégica global. Segundo o economista e empresário Fabio Ongaro, o objetivo central é claro: “restaurar a supremacia americana por meio da reindustrialização, de uma política externa assertiva e de um novo arranjo nas cadeias produtivas. No entanto, duas fragilidades permanecem expostas e limitam o alcance dessa ofensiva: a escalada da dívida pública interna e a dificuldade de transferir, com rapidez e eficiência, os centros produtivos para áreas mais seguras”, aponta o CEO da Energy Group Brasil e vice-presidente de finanças da Câmara Italiana do Comércio de São Paulo – Italcam.
Para ele, a ambição trumpista passa por tarifas contra a China, subsídios industriais massivos, revalorização da produção doméstica e, até mesmo, instrumentos alternativos de financiamento, como stablecoins lastreadas em dívida americana. “O mundo pós-2025 será definido por soberania produtiva, alianças resilientes e capacidade de adaptação. O Brasil ainda tem tempo de escolher seu lugar nesse mapa, mas o relógio geopolítico não espera”, ressalta Ongaro.
Benefícios para o Brasil
Ao Brasil, o novo cenário traz riscos e possibilidades. De acordo com Ongaro, o redesenho das cadeias globais pode beneficiar o país como destino de parte da produção relocalizada, sobretudo em áreas como agroindústria, energia limpa, mineração estratégica e biotecnologia. A vantagem brasileira está na abundância de recursos naturais, na matriz energética relativamente verde e em sua posição geopolítica não conflitiva, ao menos até agora”, destaca o especialista.
Ele pontua que, contudo, há desafios estruturais. O país ainda sofre com infraestrutura deficiente, insegurança jurídica e um ambiente regulatório instável. Para se tornar um parceiro relevante no novo desenho industrial ocidental, o Brasil precisa oferecer mais que commodities: precisa entregar previsibilidade, produtividade e capacidade de integração tecnológica.
Além disso, há o risco de se tornar alvo colateral do protecionismo americano. “Tarifas seletivas, regras técnicas restritivas e exigências de conteúdo local podem afetar exportações brasileiras em setores como aço, alimentos industrializados, veículos e até tecnologia. A diplomacia comercial brasileira terá que se mover com agilidade para garantir isenções, acordos bilaterais e espaço nas novas cadeias produtivas”, reforça Ongaro.
Outro ponto crítico para o economista é o equilíbrio entre EUA e China. O Brasil tem na China seu maior parceiro comercial, especialmente em soja, minério e petróleo. Mas também depende de investimentos americanos e da estabilidade do dólar como moeda de referência. A intensificação da rivalidade entre Washington e Pequim exigirá do Brasil uma política externa ativa, pragmática e não alinhada, algo que vem se tornando cada vez mais raro.
Limites visíveis, reposicionamento em disputa
A agenda de Trump para os Estados Unidos é clara: poder por meio de autonomia produtiva e controle fiscal alternativo. Mas o que se impõe são duas muralhas difíceis de contornar. De um lado, a dívida crescente limita a capacidade de investimento público sustentável. De outro, a transição para cadeias produtivas seguras exige anos de construção e adaptação, mesmo com incentivos bilionários.
“Para o Brasil, o novo ciclo é também um teste de ambição. Pode permanecer como mero exportador de matérias-primas, sujeito às marés geopolíticas. Ou pode investir em competitividade industrial, atrair produção estratégica e se reposicionar como elo confiável das novas cadeias globais”, conclui Ongaro.
(*) Com informações da Energy Group Brasil
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