Por Bruno Quick
Pandemia, guerra na Ucrânia, aumento da inflação global, crescimento das populações em situação de vulnerabilidade, caos logístico… Nos últimos dois anos, o mundo foi sacudido por uma crise sistêmica que tem levado pensadores, cientistas, gestores públicos, empresários e sociedade a buscarem soluções que estejam à altura do enorme desafio que a humanidade tem pela frente.
Nesse contexto, fica cada vez mais evidente a compreensão de que a economia é um dos instrumentos mais poderosos para melhorar as condições de vida das pessoas e cuidar do meio ambiente. As lições aprendidas com o modelo de desenvolvimento que gerou por exemplo, no Brasil, situações críticas como Cubatão (que foi, nos anos 1980, marcada pela poluição ambiental e pelo adoecimento da sua população), nos fizeram evoluir até ao momento atual, quando o Estado, com a participação da sociedade organizada, criou marcos regulatórios que colocam hoje o país em uma situação de vanguarda. Podemos lembrar o nosso Código Florestal, de 2012, que representou avanços importantes para a preservação das florestas, e da biodiversidade brasileira e introduziu medidas como o Cadastro Ambiental Rural, Reserva Legal, e a preservação de nascentes e matas ciliares. Nos últimos anos, debatemos e aprovamos também o Estatuto das Cidades, Política Nacional de Resíduos Sólidos, o Marco Legal do Saneamento, incentivos às energias renováveis, e recentemente a regulação do Mercado de Carbono, objetivando zerar a emissão de carbono no Brasil.
Essa evolução se deu dentro de uma nova consciência global alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas. As 17 metas estipuladas pela ONU compõem uma agenda mundial que se propõe a guiar a humanidade até 2030, com a busca pela erradicação da pobreza, fim da iniquidade de gênero, respeito à diversidade, combate à catástrofe climática, entre outros avanços civilizatórios.
Foi nesse ambiente, também, que começamos a discutir e adotar o conceito de ESG, proveniente do inglês: Environmental (ambiental), Social (social) e Governance (governança). Com adesão do setor privado ao chamado para a ação, os empresários compreenderam que a sua responsabilidade vai muito além de oferecer produtos e serviços e pagar impostos para a manutenção das políticas públicas. As empresas reconheceram que precisam avançar no compromisso com seus colaboradores internos, parceiros, comunidades e o meio ambiente.
Esse desafio vale tanto para grandes corporações, como para as médias e pequenas empresas. No caso do Brasil, onde os pequenos negócios representam 99% de todas as empresas e têm sido responsáveis por 70% dos empregos gerados ao longo dos últimos meses, isso é ainda mais verdadeiro e desafiador.
Por essa razão, nos últimos anos, o Sebrae vem trabalhando em várias frentes para contribuir com o aumento da capacidade de inovação, competitividade e sustentabilidade dos pequenos negócios. Esse trabalho se desdobra no projeto Conexões Corporativas, por meio do qual a instituição atua junto a grandes empresas e pequenos negócios que atuam em suas cadeias de valor e comunidades, fortalecendo parcerias em um modelo ganha-ganha, onde pequenos e grandes encontram solução para os seus problemas em atendimento à sociedade.
Ao mesmo tempo, o Sebrae tem buscado desenvolver ações que contemplam as múltiplas realidades regionais de um país de dimensões continentais. O caminho encontrado é fortalecer as governanças locais nos territórios, integrando os setores público, privado e terceiro setor. Os principais instrumentos adotados são o programa Líder – liderança para o desenvolvimento regional e o Cidade Empreendedora que estão presentes em todas as unidades da Federação e em mais de 1.540 municípios.
O Brasil é um grande mosaico de realidades expressas nos seus territórios, a partir dos quais estes atores, juntos, podem promover o desenvolvimento econômico e verdadeiramente sustentável do país. Conectar estas governanças territoriais em uma rede nacional, potencializa a contribuição das empresas, especialmente as que participam da nossa estratégia de Conexões Corporativas.
Como avalia John Elkington, um dos precursores do conceito de responsabilidade social e ambiental na economia, autoridade mundial no tema e nosso palestrante, o conjunto de acontecimentos climáticos e os seus efeitos – nos levam a encarar o mundo sob um novo prisma nos próximos anos: devemos assistir a um aumento da pressão por ações voltadas para a agenda da sustentabilidade, da desaceleração do aquecimento global e pelo combate às desigualdades sociais.
O quadro impõe às instituições públicas, privadas e de terceiro setor implementar estratégias conjuntas, e desafia suas lideranças a desempenhar o papel de protagonistas em nosso país. O cenário ficou evidente durante o Fórum Encadear 2022, em que o objetivo proposto foi alcançado: a legitimação do compromisso das instituições e a adesão dos setores em atuar como apoiadores do grande processo da agenda ESG no Brasil, onde juntas, pequenas e grandes empresas, desempenharão seu papel com confiança e determinação, com a contribuição do Sebrae, fazendo de nosso país, protagonista global da agenda de sustentabilidade.
Bruno Quick é diretor-técnico do Sebrae.
Fonte: Agência Sebrae
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