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Atualidades
sexta-feira, 27 de outubro de 2023

No Brasil, carteira de crédito equivale a 55% do PIB, diz presidente da Febraban



Renata Vilhena (esq.), Isaac Sidney, Roque Pellizzaro Jr., Diogo Ilário e Felipe Prince

VI Fórum Nacional do Comércio promove debate sobre o mercado de crédito; painelistas apontam medidas para o setor aumentar a oferta de recursos destinados ao desenvolvimento do Brasil

No último dia do VI Fórum Nacional do Comércio (FNC), evento realizado em Brasília nesta terça (24) e quarta-feira (25), os painelistas discutiram o papel do crédito como indutor do desenvolvimento, impulsionando o crescimento econômico, estimulando a inovação, expandindo os negócios, facilitando o investimento e aumentando a capacidade de estoque. Participaram do painel o presidente do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Roque Pellizzaro Júnior; o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney; o diretor de Varejo do Banco de Brasília (BRB), Diogo Ilário; e o vice-presidente de Controle Interno e Gestão de Riscos do Banco do Brasil, Felipe Prince.

O primeiro convidado a falar foi Isaac Sidney, que mostrou o atrelamento do mercado de crédito com o desenvolvimento e fortalecimento das economias. “Todos os países que têm uma renda per capita maior e conseguiram endereçar problemas importantes relacionados ao ambiente de negócios e o ambiente de crédito passaram a ter um sistema de crédito igualmente desenvolvido”, explicou o presidente da Febraban.

“A proporção do saldo da carteira em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) é forma de identificar se o mercado de crédito é pujante. Se olharmos para os Estados Unidos, a gente vê uma carteira de crédito que hoje já equivale a mais de 200% do PIB. Na Europa, a proporção é da ordem de 100%. Já nos países de baixa renda, a proporção é de 20% do PIB; e o Brasil está numa posição intermediaria. O saldo da carteira de crédito brasileira dá algo em torno de R$ 5,5 trilhões, o que equivale a mais ou menos 55% do PIB”, contou Isaac Sidney.

Apesar de o mercado de crédito brasileiro ter crescido, desde a implementação do Plano Real nos anos de 1990, ainda há muito espaço para crescer, especialmente, considerando o trabalho do Banco Central como regulador, que tem tornado o ambiente competitivo abrindo a indústria de crédito. “Sem dúvida nenhuma o crédito é uma grande alavanca para o desenvolvimento, pois é o crédito que permite ampliar a capacidade produtiva das empresas e o consumo e fomenta o bem-estar da sociedade. Agora, o que é necessário para que seja de fato uma alavanca sustentável? Primeiro, insistir na estabilidade macroeconômica. O país que tem inflação baixa e estável, favorecendo a previsibilidade das empresas e das famílias, permite o planejamento de longo prazo, e isso é inafastável”, afirmou o executivo da Febraban.

O segundo aspecto é o acesso a informações em quantidade e qualidade para medir o risco das operações; e o terceiro, um ambiente regulatório. Tudo isso o Brasil possuí. O maior gargalo para o crescimento do setor tem sido o custo do crédito, avaliou o presidente da Federação Brasileira de Bancos. “A cada R$ 100 que cada um de nós paga de spread bancário, R$ 80 são destinados a custos da intermediação financeira, ou seja, R$ 20 é margem de lucro dos bancos e R$ 80 tem a ver com custos do crédito”, detalhou o especialista.

No caso do Brasil, o spread – a diferença entre os juros que o banco paga para captar recursos e os juros cobrados para emprestar dinheiro – é alto e a taxa de juros é elevada, porque segundo o presidente da Febraban, temos o pior sistema de recuperação de crédito e de garantias. “Quando a gente vai para a recuperação de crédito de empresas por meio de processo judicial, só recuperamos de 15 a 20% de cada dólar dado em garantia. Então, a nossa capacidade de recuperar garantias é baixa e o tempo que demoramos para recuperar a garantia impacta no crédito também, e o custo disso é alto, sem falar na pesada carga tributária incidente sobre o custo do crédito”, destacou Isaac Sidney.

A Febraban tem se movimentado junto ao Congresso e o Executivo federal para melhorar o mercado de crédito e baratear o custo, por meio de alterações microeconômicas a fim de, por exemplo, facilitar a recuperação e garantia e permitindo empréstimos guarda-chuvas de um financiamento já realizado. Enquanto essas medidas não saem, o montante de crédito concedido este ano deve crescer na ordem dos 8% — superior a previsão de 3% para o PIB. “A inadimplência mais contida, a inflação arrefecendo e a Selic caindo são aspectos positivos para o crescimento do mercado de crédito”, concluiu.

Proteção ao crédito
O presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Jr., também tratou sobre o alto custo do crédito no Brasil. Segundo o especialista em proteção do crédito, dentro daqueles R$ 80 reais de custo do crédito, estão embutidos os tributos, a operação em si e o risco. Os birôs de créditos surgem, justamente, para reduzir os ricos de inadimplência, ofertando informações em qualidade e quantidade sobre o tomador de crédito, tornando a concessão de crédito mais segura.

“O Brasil antes do Cadastro Positivo trabalhava por médias de inadimplência, ou seja, havia um risco médio de determinado financiamento e o custo do dinheiro, independentemente de quem tomava, tinha o mesmo risco, porque não era individualizado”, explicou o presidente do SPC Brasil, entidade que compõe o Sistema CNDL.

“A média é muito ruim, pois poucos realmente serão considerados. Com o Cadastro Positivo, que não olha mais a média, é possível individualizar a vida de cada um e deixa-se de olhar uma fotografia, que é o Cadastro Negativo. Dá uma visão ampla do histórico daquele tomador de crédito. Com isso, é possível ter acesso a taxas e prazos diferenciados com base no perfil individual de risco”, acrescentou Pellizzaro Jr.

O especialista em proteção ao crédito ainda comentou sobre a tributação da concessão de crédito, e disse que a prática inibe o desenvolvimento do Brasil. “Quando eu tributo a operação de crédito em si, eu tributo a origem do desenvolvimento e inibo a geração de produção, seja na Indústria, no Agro, nos Serviços. A renda resultante da produção é que deveria ser tributada. Mas quando se tributo o insumo que vai gerar riqueza, na verdade, impede a criação de riqueza”, resumiu Roque Pellizzaro Jr.

O dirigente lojista também lembrou sobre a onda de varejistas entregando suas carteiras de créditos para bancos, seja por falta de tecnologia suficiente para tomar o risco e conceder o crédito, seja por falta de estrutura de funding para fazer suas carteiras de vendas crescerem e acompanhar o ritmo de expansão de suas lojas.

“Muitos fizeram isso, e hoje, pagam um preço: um dos maiores problemas que os varejistas estão enfrentando é de, ao terceirizar suas carteiras de crédito, terem perdido a possibilidade de abrir e fechar a ‘torneira do crédito’ como indutor das suas vendas. Isso ficou lá com o banco, a financeira. Perderam a mão disso”, afirmou o presidente do SPC Brasil.

Quando o lojista reduz a oferta de crédito, automaticamente, diminui as chances de aumentar as suas vendas. Neste cenário, o concorrente que consegue unir boas condições de venda e de pagamento, pode tomar um risco maior de crédito e, consequentemente, melhorar as suas vendas”, complementou.

Pellizzaro Jr. concordou que o Banco Central tem feito um excelente trabalho na melhoria e crescimento do mercado de crédito, contribuindo para a competitividade dentro do segmento. “Por exemplo, a antecipação de recebíveis antigamente era feita basicamente por bancos. Agora, os FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios) estão se expandindo Brasil a fora, e com custos operacionais menores e ambientados em nichos, trazendo resultados muito melhores de estrutura de funding para as operações dos varejistas”, ressaltou.

Ainda de acordo com o executivo, o BC está construindo uma nova estrutura de registro e escrituração de recebíveis, contribuindo para a redução das fraudes no ambiente de antecipação. “Vai praticamente zerar as fraudes, que é o pior dos mundos. O risco de inadimplência é grande, mas ainda pode-se recuperar o crédito. a fraude é dinheiro perdido. Com a nova estruturação, você azeita o mercado e traz novos concorrentes”, disse.

“O varejo brasileiro deve retornar a estrutura de ele tomar o risco das operações. O ambiente de funding deve melhorar muito nos próximos anos”, projetou Roque Pellizzaro.

Por fim, falou sobre como os micro e pequenos negócios tomam crédito de maneira errada, e isso também encarece a concessão de crédito no país. “Mobiliza o próprio dinheiro e usa o dinheiro de terceiros para capital de giro, que tem os juros mais caros e o prazo mais curto. Já o investimento tem o prazo mais longo e. juros mais barato”, definiu. “Então, precisamos melhorar a consciência de quem toma emprestado, a competitividade de quem empresta dinheiro e gera funding para outros emprestarem e ainda a questão tributária do mercado financeiro”, listou o presidente do SPC Brasil.

“Os varejistas pagam ICMS sobre o financiamento. Isso é uma aberração! Você embute esse valor no preço do produto, e aí o imposto incide sobre o financiamento. Essa questão precisa ainda ser muito bem discutida”, finalizou.

   
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